LIGAÇÃO AMOROSA: NÃO HÁ RECEITA. NÃO HÁ ESCOLA. NÃO HÁ MANUAL

Parceiros de um casal "perfeito" precisam se querer bem como se querem bem os bons amigos, e temperar esse afeto com a sensualidade que distingue amizade de amor. A melhor parceria deve ser aquela em que um aceita o outro sem ter de submeter a qualquer coisa pelo outro; em que um aprecia e admira o outro, mas tem por ele ternura e cuidados.

Se o outro servir de cabide para os nossos sonhos mais extravagantes de perfeição, o primeiro vento contrário derruba o pobre ídolo que não tem culpa de nada.

No casamento saudável há um propósito geral: quero passar com você o melhor dos meus dias, construir com você uma relação agradável, importante e definitiva.

É essencial não correr para os braços do outro fugindo da chatice da família, da mesmice da solidão, do tédio. É importante não se lançar no pescoço do outro caindo na armadilha do "enfim nunca mais só!", porque numa união com expectativas exageradas decreta-se o começo do exílio.

Amor bom, além do mais, tem de suportar e superar a convivência diária.

Na verdade, na parceria amorosa como tudo o mais recomeçamos tudo todos os dias. Então podemos tentar começar diferentes também aqui e agora. O cotidiano conforta, os seus pequenos rituais são os marcos de nossa vida mais segura, mas também traz desencanto e monotonia.

Precisamos de criatividade num relacionamento amoroso, dizem. O problema é que quando se fala em "criatividade" numa relação a maioria pensa logo em inovações no sexo, como se a solução estivesse em novas posições, outro perfume, artifícios exóticos.

Transar bem é resultado, não meio. Como deveriam ser os filhos: fruto de um afeto vivo, não instrumento para consertar o que está falido.

Passada a primeira fase da paixão, a gente começa a amar de outro jeito. Ou amar melhor; ou: aí é que a gente começa a amar; a querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.

Amor é tarefa complexa, além de tudo porque para amar preciso primeiro me amar. Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro.

Uma ligação amorosa é uma longa elaboração: enfrenta toda uma série de transformações de parte a parte. Mudamos e os parceiros não mudam necessariamente no mesmo ritmo, com a mesma intensidade ou no mesmo sentido.

O instinto e o afeto é que fazem com que os bons casais, os casais amorosos, usem dessas fases de crise para se renovar e crescer, se possível juntos. Desde que o instinto seja saudável, o afeto seja bom, a personalidade aberta.
Não há receita. Não há escola. Não há manual.
Eugenio Santana

Nenhum comentário: