VERSO & PROSA. EROS E PSIQUÊ?

“O Amor é o desejo impossível de ser um quando há dois. Noutras palavras, é o desejo impossível da completude. ” (Lacan - psicanalista)

O Amor é Arte que se lapida, garimpa e burila. Inapelavelmente. Trabalho arqueológico exige dose extra de paciência, tolerância, compreensão para escavar fundo cada uma de suas camadas. Muitos se aplicam à superfície, ao prazer escondido na epiderme, destituído de delicadeza e poesia, embora pleno de volúpia. Como se o corpo andasse pela metade em ânsias de encontrar seu complemento; entregar-se ao jogo esfuziante de Eros, esse frenesi arrebatador que atrai os namorados ao mais libertino desnudar até que as energias se esvaem.

Tais namorados teriam preferido a morte prenunciada pelo êxtase. A lassidão que deles se apodera denuncia-se no silêncio aterrador, espíritos analfabetos dentro de corpos nocauteados pela lascívia. Silêncio que suplica por refugiar-se no sono. Já não há o que dizer. Se verbalizam, é o trivial, juras de amor eterno, galanteios de um ao desempenho do outro.

Todavia, as subjetividades permanecem indevassáveis. Um e outro teriam preferido estar a sós. Mas eis que se devem tolerar. Neófitos, não dominam a arte do silêncio; desperdiçam palavras, provocam barulhos, deixam-se levar por ridículos questionamentos quanto aos sentimentos mútuos.

Na dança de Eros, exibem-se em ritmos distintos. Par incompatível, para ele a música instiga ao apogeu do êxtase. Espada altiva, esforça-se por arrancar dela ao menos um dos infinitos estertores de que a mulher é capaz. Só então afunda a espada pra trazer lá de dentro, erguido à ponta, o troféu de sua virilidade. Se chegam juntos ao momento supremo, em que a morte os devolve à infância, abrigados em cavernas uterinas, retroagidos ao Paraíso, então, crianças de tenra idade, exprimem-se onomatopeicamente em grunhidos indecifráveis. Contudo suficientes para selar a atração.

Para ela não é a espada o fator decisivo na batalha. É o coração do guerreiro. Difusa, toda ela é banhada por Eros. Não quer chegar nem provar, quer apenas prolongar, perenizar, já que a morte é inevitável e imprevisível. Não quer ganhar o jogo, e sim prossegui-lo para todo o sempre. Se houver final haverá também perda. Quer que o amado a arrebate, seqüestre-a para mundos desconhecidos nos quais a linguagem cessa e o mistério irrompe.

Ela é poesia, ele, prosa; ela, curva, ele, reta; ela, chama viva de amor, ele, lenho que se consome tão logo é aceso o fogo. Quando partilham a cama e o teto, ela acredita que, com o tempo, ele haverá de mudar, e ele não muda; ele acredita que ela jamais mudará, e ela muda.

(EUGENIO SANTANA

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