
O empenho... Ser feliz dá trabalho. Há quem diga que não.
Acredita nas fórmulas mágicas que esta literatura contemporânea nos oferece, prometendo-nos uma série de felicidades, que segundo aqueles que a produzem, podem ser conquistadas com a aplicação das receitas por eles oferecidas.
Há quem preveja o futuro. Garante ler nas mãos as rotas do amanhã, os amores que virão, os sofrimentos que chegarão e os fatos que mudarão a história. Há quem creia nos búzios, nos tarôs, nas simpatias que atraem sorte e até mesmo nas promessas que insistem em mercantilizar o que por natureza é gratuito em Deus.
Eu continuo sem crer em tudo isso. Ainda prefiro ver a vida, o novo ano, as novas possibilidades como um novelo misterioso que trago preso a mim, pela ponta. Viver consiste em deixar o novelo se desprender das mãos. No gesto de deixá-lo cair, permanecem duas perspectivas: o cuidado de segurar a ponta para que não se perca de nossas mãos e a liberdade para que se desenrole de acordo com o movimento. Nisto está a beleza: a previsão responsável e o espaço para a surpresa.

Tudo vai nos despertando sorrisos, vontade de viver, de cantar aquela música brega, de dar vexame em público, de dizer que ama, que ama, que ama.

Felicidades encaixotadas, prontas para serem vendidas, comercializadas, trocadas, excluídas. Comércio que insiste em nos convencer de que tem a solução para os nossos problemas. Felicidade fácil. Aparelhos que prometem nos emagrecer, enquanto comemos pipoca amontoados no sofá da sala. Cápsulas milagrosas que vão comendo a gordura da nossa preguiça enquanto continuamos preguiçosos, comendo as coisas que nos fazem mal, insistindo em expor o nosso corpo a todos os malefícios das gorduras saturadas, hidrogenadas e outros adas..

Por outro lado, há um jeito interessante de ser feliz. Felicidades responsáveis. Gestos que nos ajudam a reconstruir a vida, encurtar as distâncias, promover as dietas, diminuir as gorduras. Vida que tem horário marcado para o cuidado do corpo, sem desculpas, sem embromos e sem enrolação. Felicidades partilhadas. Descobrir que repartir o instante feliz é uma forma de multiplicá-lo, fazê-lo eterno. Perceber que belezas superiores insistem em se esconder em belezas menores, pouco atraentes.
Felicidades sem aviso. Reencontros inesperados, presente que se recebe sem razão, comemorações sem datas especiais. Pequenos gestos que fazem a diferença na soma de tudo. Vida que se comemora só por comemorar, só por reconhecer o que nela é único, irrepetível, singular. Eu espero que este novo ano seja um tempo propício para felicidades verdadeiras.

Eu não tenho nenhuma previsão para sua vida. Para mim, não importa se Saturno está na linha de Júpiter ou se as cartas revelaram verdades ocultas a respeito de quem quer que seja. O que sei é que a vida continua amanhecendo, com ou sem a minha previsão. O inesperado ainda é a metade mais viva da vida. Programe-se bem para este novo ano. Só quem se programa e cumpre bem o que se propôs saberá lidar com as surpresas. No mais, eu lhe desejo muitas e muitas felicidades sem aviso, sem previsões...
Um comentário:
Perfeito...Me ajudou a refletir sobre minha vida como se estivesse aqui, conversando comigo e me conhcesse.Parabéns pelo blog lindoooo.
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