Quem é bom mesmo faz o que ninguém quer fazer


sex, 23/04/10
por Thiago Cid |
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Se um belo poster e palavras bonitas são tudo que você precisa 
para se motivar, você provavelmente tem um trabalho muito fácil. Do tipo
 que os robôs estarão fazendo em breve.
Se um belo poster e palavras bonitas são tudo que você precisa para se motivar, você provavelmente tem um trabalho muito fácil. Do tipo que os robôs estarão fazendo em breve.
As opiniões do americano Lawrence Kersten, guru da DESmotivação, levaram os leitores aqui do blog a reações  radicalmente opostas no meu post anterior. Kersten é um ex-professor universitário que abriu uma empresa para vender produtos que ironizam as amarguras do trabalho. O seu principal alvo são os discursos motivacionais usados pelas empresas e consultores. Kersten tripudia de mensagens inspiradoras. “O copo está meio vazio. Lide com isso”, diz um de seus produtos – uma xícara com um risco na metade. Outra que eu gosto, com um pinguim simpático, é “Limitações: até que você abra bem as suas asas, você nunca saberá quanto pode caminhar”.
Kersten não faz questão de ser gentil ou cativante, e afirma fazer o bem ao atacar o que considera ilusões. “As pessoas precisam tomar responsabilidade por suas vidas”, afirma. Para ele, é possível que alguém encontre significado, paixão e excitação no trabalho, mas é uma busca interior, quase espiritual. Tem a ver com sensação de ser capaz de realizar tarefas desafiadoras, da satisfação quase orgásmica de ver o trabalho pronto. Cultivar ilusões de que um dia as coisas hão de melhorar, na visão dele, só agrava o descontentamento.
Nessa linha de raciocínio, é melhor ser prático e cético: em vez de confiar no pensamento positivo e num destino justo, é preciso estudar, trabalhar, procurar os contatos certos e manter a serena consciência de que tudo isso talvez não baste. É preciso correr riscos, conter o choro e aprender a assimilar os golpes. De certa forma, o trabalhador de Kersten é uma espécie de lutador de vale tudo na arena corporativa: ele não se abala com os socos e pontapés. O que o motiva são os resultados, a vitória eventual, o serviço feito, o reconhecimento interior de ser capaz.
Não é uma tarefa fácil, já que somos sensíveis e carentes de reconhecimento. Atingir o estágio de disciplina mental e clareza de propósito defendido por Kersten é um processo. O sr. Desmotivação sugere quatro pontos a conquistar nessa jornada. Segundo ele, quanto mais você avançar nesses quesitos, menos será atingido por aborrecimentos e decepções no mundo do trabalho. Eis os conselhos:
- Perspectiva: a vida é difícil e todo trabalho é duro. Se você aceitar essa premissa, as coisas ficam mais fáceis. “Para mim, a insatisfação está enraizada na ideia que o trabalho deveria ser mais interessante, ter mais significados ou trazer recompensas”, diz. Segundo Kersten, falta a percepção de que até os melhores trabalhos tem aspectos frustrantes, irritantes ou entediantes. Trabalha-se para sobreviver. Uma vez aceito isso, pode ficar mais fácil ver coisas boas coisas no trabalho.
- Autocontrole: é a disciplina fundamental para que exista chance de se conquistar uma satisfação genuína. “Falo de controle sobre aspectos mundanos da vida: tempo, sono, exercícios, dieta, atenção, emoções”. Quanto mais controle você tiver, menor a probabilidade de ser controlado pelas circunstâncias.
- Autodeterminação: a motivação vinda de fora se esvai quando a pessoa sente que está sendo controlada ou manipulada. Recompensas, metas, avaliação e competição são mal vistas por muita gente. Para superar essa percepção, quem trabalha deve atribuir significado a suas ações — por exemplo, com metas pessoais de eficiência, produtividade, criatividade, relacionamento com colegas. “O ótimo profissional é aquele que assume as situações que a maioria das pessoas acha frustrante ou difícil e encontra satisfação simplesmente por se ver capaz de resolver a complicação”.

Quem trabalha deve atribuir significado a suas ações — por exemplo, com metas pessoais de eficiência, produtividade, criatividade, relacionamento com colegas. “O ótimo profissional é aquele que assume as situações que a maioria das pessoas acha frustrante ou difícil e encontra satisfação simplesmente por se ver capaz de resolver a complicação”.
- Aprender a lidar com pessoas difíceis: os colegas de trabalho podem ser uma grande fonte de motivação ou de aporrinhamento. Um dos principais talentos que um profissional pode desenvolver é a capacidade de interagir com pessoas difíceis – os arrogantes, os grosseiros, os folgados, os invejosos e por aí vai. Aqueles capazes de driblar as intrigas e alfinetadas e se concentrar no trabalho se destacam. É uma espécie de desdém enlevado, que exige combinações em doses diversas de humildade, criatividade e capacidade de persuasão.

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